quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O único invicto


Depois de conquistar a Ligue 1 em 2008/09 e quebrar a série de conquistas do Lyon, o Bordeaux mostra, em 2009/10, que está disposto a construir uma hegemonia no futebol francês e lidera a Ligue 1, com 51 pontos em 24 jogos, três a mais do que o Montpellier, segundo colocado, que já realizou 25 partidas. O provável bicampeonato, porém, não impressiona tanto quanto o fato dos Girondinos serem, até aqui, os únicos invictos da Liga dos Campeões.

No sorteio da primeira fase, o Bordeaux caiu no Grupo A, com os poderosos Bayern de Munique e Juventus, além do Maccabi Haifa-ISR. E era apontado como terceira força até a bola começar a rolar. Os prognósticos foram derrubados dentro de campo, com uma campanha impecável: em seis jogos, cinco vitórias e um empate. E a vitória fora de casa contra o Olympiacos por 1 a 0, no jogo de ida das oitavas de final, colocou a equipe com um pé nas quartas de final.

O principal responsável pela montagem desse time é Laurent Blanc, ídolo nacional como jogador, técnico da moda na Europa e, merecidamente, objeto de desejo de vários clubes grandes do Velho Continente para a próxima temporada. Ele já foi especulado como possível sucessor de Sir. Alex Ferguson, que está próximo da aposentadoria no Manchester United, e até mesmo, na seleção francesa que disputará a Copa do Mundo de 2010.

A estrela da companhia continua sendo Yoann Gourcuff, que é cercado de bons coadjuvantes como Yoann Gouffran, Marouane Chamakh e o eficiente lateral esquerdo Benoit Trémoulinas, que já fez sete assistências na Ligue 1 até agora. Os brasileiros Wendel e Fernando Menegazzo também são titulares, ao contrário de Jussiê, reserva de luxo que entra em quase todas as partidas. O zagueiro Henrique, ex-Flamengo, passou um tempo lesionado e só atuou em quatro oportunidades.

O ponto forte do time é a solidez da defesa, que sofreu apenas 18 gols no Campeonato Francês e dois na Liga dos Campeões. O “zagueiro artilheiro” Michaël Ciani e o principal goleador do time na competição europeia, faz uma boa composição com Marc Planus, e ambos são muito bem protegidos pelo capitão Alou Diarra, ex-Lyon, que exerce a função de primeiro volante, e Fernando Menegazzo, que é o segundo homem de meio-campo.

Se, por algum milagre, Blanc ficar no Bordeaux, poderá marcar época e, quem sabe, repetir os feitos alcançados pelo outrora imbatível Lyon.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A hora do sumiço


Dodô tem a carreira marcada por golaços e sumiços, e isso não é novidade para quem acompanha futebol há pelo menos 15 anos. No início da Taça Guanabara, empolgou os vascaínos com três belíssimos gols no 6 a 0 contra o Botafogo e mais três na vitória sobre o Friburguense, na rodada seguinte. E depois, como de costume, sumiu, se apequenou diante da marcação dos zagueiros e só foi às redes novamente na vitória por 1 a 0 contra o Resende.

O futebol dele desapareceu repentinamente, como em várias outras ocasiões da carreira. A exibição decepcionante contra o Fluminense já indicava isso, e neste domingo, Dodô provou que não mudou e continua sendo um jogador com o qual não se pode contar nas decisões. Afinal, em 15 anos como profissional, conquistou apenas dois títulos: o Campeonato Paulista de 1998, pelo São Paulo, e o Campeonato Carioca de 2006, pelo Botafogo. A pouca eficiência, porém, é mascarada pelos gols bonitos.

Além de não ser confiável, ele talvez não seja mais tecnicamente útil ao time. Recentemente, lendo o livro A história dos Grenais”, constatei que o Internacional da década de 70 foi montado da seguinte maneira: entre força, técnica e velocidade, o jogador precisava ter pelo menos duas dessas características para figurar na equipe. Trazendo para o cenário vascaíno, o Dodô de hoje é apenas técnico e não oferece possibilidades em jogadas de profundidade ou cruzamentos para a área.

Ao Botafogo, resta comemorar uma vitória merecida e iniciar a preparação para a final do campeonato. O time fez o que se propôs a fazer e se vingou de seu grande algoz com muita propriedade e alguma sorte. Méritos para Joel Santana, sacaneado pelo país inteiro nos últimos tempos, mas que, mais uma vez, provou ser competente e vencedor. E ao massacrado Fahel, que esteve impecável no papel de terceiro zagueiro e jamais será reconhecido por isso.

P.S: O livro “A história dos Grenais” é de autoria de David Coimbra, Nico Noronha, Mário Marcos de Souza e Carlos André Moreira. E conta os 100 primeiros anos da rivalidade entre os dois gigantes gaúchos. Vale a pena conferir.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

E a mística continua


Na semana passada, fiz postei dizendo que a mística de que “há coisas que só acontecem com o Botafogo” estava de pé, mesmo contra a vontade do presidente do clube, Maurício Assumpção. Hoje, na ressaca de um carnaval caseiro, pode-se reiterar o ditado com veemência. Afinal de contas, perder para o vencedor da Série D e se recuperar em cima do campeão da A é um feito inédito no futebol brasileiro, até porque a Série D só foi criada no ano passado.

O jogo, em si, era tido como uma barbada. Afinal de contas, o mundo, a CIA, o parlamento inglês, os cachaceiros de Peritoró-MA e até Barack Obama – o verdadeiro, não aquele pentelho da geral do Maracanã – sabiam e sabem que o Flamengo é superior. E venceria o jogo se Vagner Love não tivesse perdido os gols que perdeu no segundo tempo, mas o “se”, definitivamente, sempre foi um grande desfalque dos times que saem derrotados.

O uruguaio Loco Abreu, 1.93m, ganhou duas bolas da zaga rubro-negra, que é baixa e boa para enfrentar atacantes rápidos, mas sofre com o jogo aéreo. Se juntarmos o nanico Toró na conta, não acrescenta nada. O Botafogo soube explorar essas deficiências e mereceu ganhar, pois aproveitou as oportunidades que teve e soube levar o juiz na conversa no lance da “expulsão” de Fahel. A rigor, a jogada em si não seria nem falta em alguns países.

No próximo domingo, o Fogão tem a chance de conseguir mais um feito inédito. Afinal de contas, nenhum time na história foi campeão da Taça Guanabara após perder de 6 a 0 do rival. É a oportunidade de alimentar a mística e satisfazer a torcida, que foi muito castigada com derrotas para o Flamengo nos últimos anos. E o desejo do presidente, afinal, terá de ser adiado.

Um Odvan com direção hidráulica


Quando estava no auge da carreira, Sol Campbell era um zagueiro firme, vigoroso, que se destacava pela força física e eficiência no jogo aéreo. Ou talvez um pouco mais do que isso: era o capitão do Tottenham que virou ídolo no rival Arsenal após uma transferência polêmica em 2001. E foi titular dos Gunners na campanha do título inglês invicto na temporada 2003/04, além de ter disputado as Copas do Mundo de 1998, 2002 e 2006, e as Euros de 1996, 2000 e 2004 e 73 partidas com o English Team

Em 2006, Campbell mudou-se para o Portsmouth, já sem o mesmo ímpeto que o caracterizava anteriormente. E ao acertar com o modesto Notts County, da terceira divisão inglesa, indicava que iria encerrar a carreira. Mas que surge o convite do Arsenal, que passa por uma permanente crise de lesões desde o início da temporada. E lá estava o zagueirão de volta, para acrescentar experiência ao grupo e ajudar na campanha da Liga dos Campeões.

O tiro, no entanto, saiu pela culatra. Campbell fez o gol de empate dos Gunners, mas falhou bizarramente no segundo gol do Porto, que venceu por 2 a 1, ao recuar desnecessariamente uma bola para o outro trapalhão do jogo, Łukasz Fabiański, pegar com as mãos. Além disso, ele tomou um humilhante chapéu do brasileiro Hulk e mostrou insegurança durante toda a partida, deixando torcedores e companheiros receosos em relação ao futuro.

Mesmo que o Arsenal vença o jogo de volta e siga adiante na Liga dos Campeões, ficou a impressão de que não há mais lugar para Sol Campbell, o maior zagueiro-zagueiro da década de 90 – uma espécie de Odvan com direção hidráulica -, no primeiro escalão futebolístico. Mas o futebol, cretino e imprevisível como é, poderá transformá-lo novamente em herói na próxima partida, ou mesmo no final da temporada.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Decisivo na hora extra


Milan e Manchester United empatavam por 1 a 1 quando Wayne Rooney deu uma entrada criminosa em Thiago Silva. O atacante inglês já tinha cartão amarelo, e o árbitro português Olegário Benquerença pipocou. Na sequência, Rooney decidiu o jogo com dois gols, garantiu a vitória por 3 a 2 e praticamente assegurou a vaga dos Red Devils para as quartas de final. Temperamental e decisivo como sempre, ele justificou a hora extra concedida pelo juiz e mostrou que poderá ser eleito o melhor jogador do mundo em 2010.

Para que isso aconteça, porém, é preciso que a segunda característica supere a primeira com uma folga maior. O histórico de entradas maldosas e expulsões de Rooney faz com que ele seja mais visado pelos adversários e, consequentemente, esteja exposto a provocações. E, caso o Manchester United confirme a classificação, terá de enfrentar defesas superiores à do Milan, que, convenhamos, já deu várias provas de que não é das mais seguras.

Aos milanistas, resta lamentar as chances perdidas no primeiro tempo e aplaudir mais uma belíssima atuação de Ronaldinho Gaúcho, que fez um gol e deu belíssimo passe para Seedorf marcar o segundo, de letra. Eles também podem chorar pela ausência de Gattuso, xerife do meio-campo que certamente teria evitado alguns contra ataques ingleses à base de botinadas. Leonardo o barrou para colocar David Beckham, e foi infeliz na mudança.

O técnico rossonero também demorou para colocar Seedorf e Inzaghi em campo, mas não pode ser apontado como o único responsável pela derrota. Afinal, ele não tem muitas opções no elenco e precisa contar com os serviços do veterano Favalli, ou do inoperante Bonera. As falhas de Dida, no primeiro gol e Nesta, no terceiro, indicam claramente que é necessário um rejuvenescimento ainda mais intenso na equipe para os próximos anos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

E a sorte sorriu para o Vasco


Foi o melhor 0 a 0 dos últimos tempos. Um jogo movimentado, disputado lance a lance, em todos os espaços. Pelo Fluminense, Fred perdeu pelo menos quatro chances que não costuma perder. No Vasco, as bolas do jogo caíram nos pés e na cabeça de Élder Granja, que também não aproveitou a oportunidade de se tornar herói. O tricolor foi mais objetivo em campo, enquanto o Vasco errava, com frequência, o último passe. Dodô, artilheiro do campeonato, teve uma atuação decepcionante.

No banco de reservas, um duelo interessante. Vagner Mancini conseguiu travar os laterais do Flu, mas insiste em treinar o time com uma linha de impedimento que deixa a zaga muito exposta. Cuca, por sua vez, conseguiu anular Dodô, mas errou ao escalar o jovem Bruno Veiga desde o início da partida. Nas substituições, Mancini levou a melhor, com as entradas de Rafael Carioca e Magno, enquanto o comandante tricolor trocou apenas seis por meia dúzia em suas três modificações.

O duelo particular entre Conca e Carlos Alberto também foi interessante de se ver. O meia tricolor colocou Fred duas vezes na cara do gol, enquanto o vascaíno municiou Élder Granja com dois belos passes, além de ter sofrido muitas faltas. O jogo também mostrou que Phillipe Coutinho tem muito o que aprender, apesar de ser um exímio driblador. Falta precisão nos chutes e passes, e ele precisa aprimorar esses fundamentos para ser chamado de craque um dia.

Se alguém esteve mais perto de ganhar, porém, esse alguém foi o Fluminense. Não venceu por falta de sorte e de competência de seu principal jogador. E também porque Alan, que muitas vezes entra no segundo tempo e decide o jogo a favor do Flu, dessa vez errou o pênalti decisivo na disputa, selando a vitória cruzmaltina por 6 a 5. O Vasco venceu porque alguém precisava vencer, mas os dois times mostraram, neste sábado de carnaval, que estão no caminho certo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Futebol não é só momento


Depois da belíssima atuação na vitória por 3 a 2 contra o Udinese, Ronaldinho Gaúcho certamente voltará a ter o nome pedido na seleção em resenhas esportivas, filas de banco, botecos e qualquer ambiente que respire futebol. As críticas recaem principalmente sobre o técnico Dunga, que “não gosta de jogadores habilidosos, circenses, no time e não convoca o ex-melhor do mundo por birra”, como se ele nunca tivesse tido chances e jogado todas elas no lixo.

Muitas vezes, o argumento usado para defender a convocação dele é o de que “futebol é momento”. Já disse por aqui e repito: esse é um dos maiores sofismas repetidos nos últimos anos. Uma frase que torna a análise absolutamente simplista e faz com que qualquer crítica que parta desse princípio seja ignorada. Ou pelo menos tente ser, já que, depois da última convocação, o treinador teve de responder cinco perguntas parecidíssimas sobre o tema. Quando se zangou, na última delas, ponderou sobre a repetição das perguntas e foi chamado, novamente, de “birrento”.

Voltando ao “futebol é momento”, é possível dizer que futebol é, também, momento. Mas é confiança, comprometimento, continuidade, talento, sorte e uma série de outras características. E aqueles que pedem Ronaldinho eram os mesmos que o queriam fora da seleção quando era chamado e não jogava nada. E serão os mesmos a bater no Gaúcho caso ele seja chamado para o Mundial e não corresponda, ou mesmo se corresponder e o Brasil não levar a taça.

Trocando em miúdos: se a decisão é de Dunga, o cargo é dele, a pressão é em cima dele, ele deve pensar, com total razão, que, mesmo que as coisas deem errado, é melhor pagar o preço pelas próprias convicções do que ir na onda de quem não tem responsabilidade nenhuma com o resultado final. Afinal de contas, o que importa, como diria o filósofo Oto Glória, é que “se ganhar é bestial, se perder é uma besta”.